quinta-feira, 31 de março de 2011

O QUE ESPERAR DA BOLSA ATÉ O FINAL DE 2011

O primeiro trimestre de 2011 foi bastante complicado para os investidores de renda variável. O
Ibovespa iniciou o ano com um tom otimista e chegou a subir mais de 3% no início do mês de
janeiro. Mas o complicado cenário externo e a rodada de aperto monetário promovido pelo
Banco Central minaram a confiança dos investidores, empurrando o índice para uma baixa de
mais de 7% no início de fevereiro. Após atingir esta mínima, a Bolsa iniciou um processo de
recuperação, mas ainda apresenta queda de 2% no ano.

O panorama econômico deve continuar recheado de incertezas, trazendo mais volatilidade
para as ações, ainda que o viés seja de alta. A maior oscilação do índice da Bolsa de Valores
explica-se pela complexidade do cenário atual da economia.

Já no front interno, as perspectivas seguem positivas. A economia brasileira tem trabalhado
com baixas taxas de desemprego, aumento de renda e passa por uma expansão de crédito
sem precedentes, o que possibilitou, em 2010, um crescimento de 7,5% a.a. do Produto
Interno Bruto (PIB), e deve garantir uma expansão de 4,5% ao ano em 2011.


Em contrapartida, a demanda mais forte tem provocado um aumento de preços generalizado,
ameaçando o centro da meta de inflação traçada pelo Banco Central, que é de 4,5% a.a., com
dois pontos porcentuais de margem de erro (para mais ou para menos). Como forma de
conter a escalada dos índices de preços, o Banco Central tem adotado, desde o final do ano
passado, medidas para conter o ímpeto da economia, com foco na desaceleração da
expansão do crédito. O aumento do compulsório, as restrições a créditos de longo prazo e, é
claro, a elevação da taxa básica de juros fazem parte deste pacote.

Estas políticas de arrocho monetário adotadas provocam, num primeiro momento, uma fuga
da renda variável, pois geram arrefecimento da economia e aumentam o custo de
oportunidade de se carregar ativos de risco. Foi exatamente isto que observamos nos dois
primeiros meses do ano, quando muitos investidores venderam ações de empresas voltadas
para o mercado interno.

Mas como já estamos chegando ao final do processo de aperto monetário e os investidores
tomam suas decisões de olho no futuro, uma sinalização de acomodação de preços pode
desencadear novas compras de ações desta natureza.
Infelizmente, o dia a dia do mercado de ações, numa economia globalizada, é extremamente
complexo e notícias de países ao redor do mundo acabam reverberando por aqui, nem que
seja no curto prazo.


No âmbito internacional, a situação permanece extremamente complexa. Os países
desenvolvidos vêm se recuperando da grave crise financeira de 2008 apoiados no aumento do
gasto fiscal e na redução das taxas de juros para patamares próximos de zero. Esta retomada ainda é frágil e as sequelas da recessão ainda atormentam os investidores.
A adoção de uma política monetária expansionista, com juros nominais negativos e elevação
dos gastos fiscais, surtiu efeito e os países do G7 seguem uma rota de crescimento, exceto o
Japão, ainda que com dificuldade na geração de emprego.

Mas o aumento das despesas públicas em países com endividamento muito alto acabou
desencadeando um temor de insolvência, principalmente em economias que não contam com
uma moeda própria, como é o caso do Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Caso
houvesse uma desaceleração do crescimento mundial, a desconfiança acerca da capacidade
destes países honrarem seus compromissos e saírem da recessão geraria instabilidade nos
mercados de todo o mundo.

Os juros próximos a zero também produziram efeitos indesejados, uma vez que aliados ao
bom momento vivido pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e à recuperação das principais
economias centrais provocaram uma escalada no preço das commodities, o que pode vir a
atrapalhar o atual avanço da economia mundial e provocar pressões inflacionárias.
Além disso, os problemas políticos no norte da África e Oriente Médio, e os desastres naturais
no Japão também prejudicam o crescimento econômico global.


Diante de todas estas incertezas, um aumento da volatilidade nos mercados é mais do que
natural, inclusive na Bolsa brasileira. Mas a expectativa para o final de 2011 continua positiva.
Um cenário de acomodação da inflação pode ser muito benéfico para esses papéis.
A alta recente das commodities não foi integralmente precificada nas ações deste setor. Se os
preços dos bens básicos perdurarem no atual patamar, haverá uma melhora do desempenho
financeiro destas companhias atraindo investidores para suas ações.

Em suma, apesar de todas as dúvidas, o panorama permanece positivo para as ações
brasileiras. Devemos continuar com alta volatilidade e com investidores migrando com muita
frequência entre os diversos setores. Se a economia internacional permitir, o Ibovespa pode
ultrapassar os 74 mil pontos, e se aproximar dos tão esperados 80 mil pontos até o final deste
ano. Embora otimista, este ainda é um momento que temos de observar com cautela o
desenvolvimento econômico das grandes nações, e como isto afetará nosso País.

AE
*José Góes é analista econômico da WinTrade, home broker da Alpes Corretora. Esta seção 
não se responsabiliza por operações decididas a partir das informações e opiniões divulgadas 
neste artigo

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