quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mantega nega pressão do governo para tirar Roger Agnelli do cargo



O ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou ontem, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que Roger Agnelli, presidente da Vale, "desagradou" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dois episódios: quando demitiu 1,5 mil trabalhadores no auge da crise financeira internacional e quando atrasou investimentos em siderurgia que tinha prometido. "Isso, evidentemente, desagradou ao presidente Lula", disse. "Ele podia ter retaliado a empresa, mas não o fez. Apenas exerceu o direito ao jus sperniandi (direito de reclamar)".

Mesmo negando que o governo da presidente Dilma Roussef tenha forçado o Bradesco, outro sócio da Vale, a trocar Agnelli, Mantega deixou claro o que espera da empresa. "Ela não pode olhar apenas para os seus interesses. Ela tem que contribuir para o país", disse o ministro. "O governo não pretende orientar as ações da Vale, interferir na estratégia da empresa, mas vai zelar para que os interesses do país sejam atendidos", afirmou. Segundo o ministro, o governo deseja que a Vale não explore só minério, mas que também agregue valor à sua produção, numa referências aos investimentos em siderurgia. "Esse é o desejo do governo, que corresponde ao interesse nacional".

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse ter informações de que o ministro da Fazenda usou palavras duras no encontro que teve com representantes do Bradesco, para que o banco aceitasse tirar Agnelli na presidência da Vale. Mantega admitiu o encontro, mas negou as pressões. "Dialoguei com o Bradesco, em uma reunião que tinha todo mundo. Mas ninguém foi massacrado", rebateu. O ministro informou que também conversou com representantes da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que possui 49% das ações com direito a voto na empresa. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem outros 9%.
"É natural que o Ministério da Fazenda se interesse pelo que está acontecendo na Vale, pois ela tem uma participação pública, explora uma concessão e tem um grande impacto sobre a economia brasileira", argumentou. "Nós sempre defendemos uma solução técnica e profissional (para a substituição de Agnelli) e tudo foi feito de acordo com os estatutos da empresa", afirmou Mantega. "A Vale é uma empresa bem sucedida e o governo quer que ela continue assim".

Aos senadores da CAE, Mantega disse que Roger Agnelli não cumpriu com a promessa de fazer uma siderúrgica no Pará. "Várias vezes ele pediu audiências ao presidente Lula e a mim para mostrar os projetos da empresa, na qual constava a construção de uma siderúrgica no Rio de Janeiro e outra no Pará", relatou. "Mas os projetos não vinham sendo realizado, havia atraso nos planos siderúrgicos".

Durante a crise, Mantega disse que o ex-presidente Lula pediu aos empresários que não demitissem os trabalhadores, mas Roger Agnelli não colaborou. "A Vale, com todo o seu poderio, pois a folha de salário é um custo pequeno para ela, demitiu 1.500 trabalhadores com o maior barulho. O presidente Lula poderia ter retaliado a empresa, elevado os impostos sobre empresa, mas apenas manifestou sua oposição e o Roger Agnelli continuou fazendo o que queria".

Os senadores tucanos Álvaro Dias e Aloísio Nunes Ferreira (SP) consideraram "grave" a afirmação de Mantega de que o governo poderia ter "retaliado" a Vale. Dias apresentou um requerimento solicitando o convite para uma audiência pública com a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), Maria Helena Santana, e com o presidente do conselho de administração da Bolsa de Valores, Armínio Fraga, entre outros, para discutir a suposta interferência do governo na Vale. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que pedirá à base política aliada que vote contra o requerimento.

Autor(es): Ribamar Oliveira | De Brasília
Valor Econômico - 04/05/2011


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