segunda-feira, 2 de maio de 2011

As 'blue chips' são a última barganha?


Enquanto o índice Dow Jones flerta com o seu maior nível em dois anos, são as companhias menores e mais arriscadas que mais se beneficiam. E as empresas de grande capitalização de mercado, sólidas e boas pagadoras de dividendos? Elas continuam patinando, desesperadas para participar da festa.

"O rali dos últimos dois anos deixou muitas 'blue chips' comendo poeira", afirma James Early, analista-sênior do popular site de investimentos The Motley Fool. "Elas estão sofrendo do que eu chamo de síndrome do filho do meio: os especuladores querem apenas crescimento, os fatalistas querem apenas rendimento e as 'blue chips' ficaram para trás", acrescenta.

Eis uma amostra, segundo Early, de companhias famosas que estão comendo poeira: Kellogg, Clorox e Coca-Cola. Com nomes grandes como esses exibindo múltiplos Preço/Lucro (P/Ls) razoáveis, balanços saudáveis e dividendos gordos, os investidores que gostam de fazer negócios a preços baixos estão tendo uma boa oportunidade para atacar. O P/L dá uma ideia do tempo do retorno do investimento.

"Essas são marcas que valem bilhões de dólares, ostentam um grande poder de formação de preços e, em grande parte, vêm perdendo o rali", afirma Early, observando que as 'blue chips' também são uma proteção útil contra a inflação. "O valor está escondido diante dos nossos olhos", ressalta ele.

Para aqueles que gostam das 'blue chips', como Jeff Lipsman, de Los Angeles, um ex-dono de uma companhia de software, é como acordar todo dia no Natal. Desde que o mercado atingiu o fundo do poço em março de 2009, ele vem estocando ações de empresas como Chevron, Consolitaded Edison, Kimberly-Clark e Altria. Sua aposta mais certeira? Caterpillar, que o investidor vendeu depois de ter visto o preço da ação triplicar.

Apesar do avanço prolongado do mercado, Lipsman ainda está em busca de potenciais barganhas com 'blue chips'. "As 'blue-chips' são uma grande proteção contra a inflação, pois pagam bons dividendos, que também podem ser reinvestidos", continua Lipsman. "Elas proporcionar múltiplos benefícios e são excelentes como fundos de aposentadoria."

E mesmo assim, há muito elas vêm sendo deixadas de lado. Lendas como Jeremy Grantham, fundador da GMO, uma gestora de investimentos de Boston, estão recorrendo ao Xanax [um medicamento usado contra a ansiedade]. Na carta trimestral mais recente escrita aos investidores, Grantham destaca os dois últimos anos, classificando-os como "um golpe sem igual para a alta qualidade... nossas sustentadas posições pesadas sobre ações de qualidade foram dolorosas".

De fato, é só observar alguns dados bem reveladores. O P/L médio estimado para este ano para as ações do índice Standard & Poor's 500 (S&P 500) está em magros 13,7. No caso das ações de empresas de média capitalização de mercado, contudo, o P/L está em 18,4. E as ações de empresas de pequena capitalização de mercado estão sendo vendidas a um P/L ainda maior, de 19,5. Os 'spreads' foram ainda mais chocantes, com as "small caps" sendo vendidas a quase 60 vezes os lucros estimados. Isso em 2009.

Trata-se de uma tendência curiosa, uma vez que, num mundo cheio de riscos, normalmente os investidores gravitam em torno de portos mais seguros. Mas nem a alta dos custos das commodities, o socorro financeiro a países na zona do euro, o conflito na Líbia ou a inflação chinesa - nem qualquer outra coisa -, parecem deter o apetite dos investidores por ações de alto coeficiente de volatilidade.

Mas os "amantes" das 'blue chips' podem ter esperanças. Embora muitas ações de empresas de grande capitalização de mercado estejam com desempenhos bem fracos, essa diferença também pode sinalizar uma oportunidade única de compra. Afinal, as linhas de tendência de mercado nunca continuam o tempo inteiro na mesma direção. "A discrepância extrema de valor está a nosso favor", diz Grantham, da GMO.

O retorno dos pequenos investidores poderá fornecer a fagulha necessária para as 'blue chips', afirma Early, do The Motley Fool. Depois do colapso financeiro de 2008 a 2009, muitos pequenos investidores, assustados, deixaram o mercado de ações, escondendo-se nos bônus e nos mercados financeiros. Mas agora eles estão retornando para as ações

Os investidores conservadores, encorajados pelos ganhos contínuos do mercado, poderão ser atraídos para alguns dos nomes mais conhecidos. "A avaliação das 'blue chips' não está acompanhando o mercado, e ao longo do próximo ano poderemos ver uma reversão para a média", diz Early. "Eu não ficaria surpreso com um renascimento das blue chips", acrescenta.

Quando a Jeff Lipsman, ele está satisfeito em continuar à caça de blue chips enquanto os especuladores olham para outros lados. Ele nem mesmo está abalado com a possibilidade de outro "crash" do mercado. "Estou comprando e mantendo", diz. "E como elas estão me pagando dividendos, não há motivos para 
vendê-las mesmo que o mercado caia."

Valor Econômico - 02/05/2011
Chris Taylor

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