terça-feira, 26 de abril de 2011

Ações de concessões públicas e bancos podem ser boa opção em tempos de inflação


SÃO PAULO - Estímulos ao aumento da oferta de alimentos, corte orçamentário, aumento da taxa básica de juro e da alíquota de impostos sobre operações financeiras. O Banco Central brasileiro busca insistentemente moderar o crescimento da economia para impedir "que a inflação trazida pelos preços de commodities se propague para outros setores da economia", segundo as palavras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em visita aos Estados Unidos neste mês.

Ainda assim, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medida oficial de inflação avaliada pelo BC, avançou 0,79% em março, acima das expectativas de crescimento divulgadas no relatório Focus, de alta de 0,65%. No acumulado do primeiro trimestre do ano, o índice registra inflação de 2,44%, e nos últimos 12 meses sobe 6,30%, apenas 0,20 ponto percentual abaixo do teto da meta para este ano.
As medidas de contenção de preços praticadas pelo governo são, em boa parte, responsáveis pelo atraso da valorização da bolsa brasileira em relação aos pares internacionais, diz o analista econômico da WinTrade, José Góes. Enquanto o índice norte-americano Dow Jones avançou 7,79% desde o início do ano e o alemão DAX 30 subiu 5,5% até a última quinta-feira (21), o Ibovespa recuou 3,37% de janeiro até o pregão da última segunda-feira (25).

Para conter a alta dos preços, além de medidas macroeconômicas, o governo opta pela alta da Selic, que ao cumprir seu papel de resfriar a atividade econômica, afeta o desempenho de algumas empresas, especialmente aquelas dnas quais a demanda depende de concessão de crédito.
Além disso, cresce a atratividade de outros instrumentos de investimentos, como a renda fixa, diminuindo os investimentos em bolsa. Seja para evitar riscos ou tirar proveito do atual cenário, o investidor precisa fazer algumas adaptações em suas estratégias de investimentos.  


Quem tem medo da inflação?
Apesar do aumento real da renda do brasileiro, a diminuição do crédito pode afetar segmentos supérfluos. Com menos dinheiro, a parcela da população com menor poder aquisitivo opta por aumentar os gastos com alimentação e diminuir as despesas com vestuário e bens secundários. "O varejo apresenta dois momentos: no primeiro, há um repasse de preços aceito pelo consumidor; mas com o tempo, a economia fica desaquecida, a inandimplência aumenta e o setor perde atratividade", diz Góes.
Os instrumentos para conter a inflação acabam por também trazer prejuízos à construção civil. A diminuição da disponibilidade de crédito leva o segmento a disputar os financiamentos de longo prazo com os bancos, trazendo menores perspectivas de crescimento.


Bancos: caminho de mão dupla
O setor financeiro, embora prejudicado pelo aumento de custos para a captação de dinheiro, não costuma reclamar quando a taxa Selic sobe. "O alto spread (diferença entre a taxa paga para captar recursos e a aplicada para emprestá-los) dos bancos brasileiros os torna bastante atrativos", diz o analista-chefe da Walpires Corretora, Leandro Martins.
"Grandes bancos se ajustam mais rapidamente do que outros setores à alta dos juros", completa o economista-chefe da Souza Barros Corretora, Clodoir Vieira. Ele alerta, contudo, que não se pode tomar todo o setor como garantia de proteção. Instituições de maior porte seriam mais atrativas por contarem com maiores volumes de reservas em relação aos empréstimos, facilitando o spread.
Cabe dizer que, por sua característica defensiva, o setor de serviços financeiros liderou as recomendações nas carteiras relativas a abril, somando 37 indicações, divididas entre 12 empresas. As ações preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4) seguiram como top pick do setor, presentes em 11 dos 31 portfólios monitorados pela InfoMoney no período.


Concessões públicas: proteção e elevados dividendos
Sejam de telefonia, energia elétrica ou serviços rodoviários, as concessões públicas não deixam de marcar presença quando o assunto é evitar a alta dos preços e a queda do crédito. "São ações que ganham por terem seus contratos reajustados em índices de inflação e pelo alto pagamento de dividendos", explica Martins, da Walpires. A preferência do analista está no setor elétrico, cujos dividendos são bastante significativos.
As concessões de energia elétrica dividem espaço com a telefonia entre os setores mais atrativos para o analista José Góes. Vale lembrar que ambos mostram características inelásticas, ou seja, mesmo mais caros, a diferença na variação da demanda é pequena.
Passando para as concessões rodoviárias, o aumento dos preços pode ser inteiramente repassado para as tarifas de pedágio - caso da CCR (CCRO3). Por ser pouco alavancada, uma alta de 1 ponto percentual da Selic teria como desdobramento, se todas as outras variáveis permanecerem inalteradas, uma queda de apenas 1,3% no lucro por ação da companhia, segundo estimativa do Bank of America.


Commodities: uma opção que requer cuidadosAs ações ligadas a commodities estão entre os segmentos mais protegidos na inflação no mercado interno, diz o consultor financeiro da Novinvest, Sílvio Paixão. Em meio ao aumento da demanda de países emergentes por grãos, fortes chuvas no início do ano, o terremoto no Japão, além dos conflitos na Líbia, os preços dos commodities dispararam em 2011. A enxurrada de dólares na economia, provocada pelo programa de flexibilização monetária norte-americano, também é cotada entre os fatores para a alta do segmento.
A alta dos produtos básicos contribui para turbinar o superávit da balança comercial brasileira. A participação destes produtos nas exportações brasileiras atingiu 69,4% em 2010, o maior nível em duas décadas, segundo estudo do Credit Suisse. As vendas de minério de ferro, petróleo, soja, açúcar, aço e celulose responderam por 50% das exportações de US$ 201,9 bilhões em 2010, segundo o banco.

Mesmo que o cenário positivo possa parecer óbvio, "é preciso avaliar tanto a estrutura de capital das empresas do segmento, como sua dependência de fornecedores e do nível da demanda, interna ou externa", diz Paixão. A Petrobras (PETR3, PETR4) pode ser um exemplo: no impasse entre reajustar o preço da gasolina para aliviar sua margem negativa ou segurar os preços para manter a inflação do País sob controle, a empresa não tirou proveito da alta do petróleo e marca queda de 10,02% e 8,17%, em seus papéis ordinários e preferenciais, desde o início do ano.

Por: Tatiane Monteiro Bortolozi

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