segunda-feira, 9 de maio de 2011

PERSPECTIVA CONSTRUÇÃO:Efeitos sazonais e custos influenciam setor no 1T11



   São Paulo, 9 de maio de 2011 - O segmento de construção civil enfrentou
dificuldades no primeiro trimestre de 2011 causados pelo excesso de chuvas
aliado ao aumento do orçamento previsto para as obras, o que refletirá nos
resultados financeiros das companhias que serão divulgados ao longo desta
semana. 

   "O aumento dos custos com mão-de-obra e preço dos insumos, além da
grande quantidade de chuva no começo do ano, interferiram nos prazos de
entregas de de empreendimentos e na adequação dos custos das obras", explica
Eduardo Silveira, analista do Banco Fator.

   Para Silveira, os resultados operacionais das empresas foram muito afetados
pela sazonalidade do período, especialmente com o deslocamento do carnaval para
o início de março, e geralmente as vendas se concentram no período
pós-carnaval.

   Além da necessidade de reajustar custos e readequar datas de lançamentos,
o setor ainda enfrentou outro desafio no primeiro trimestre do ano: a redução
dos investimentos no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). O Governo anunciou
corte de R$ 5 bilhões no pacote habitacional.

    "Dentro deste cenário, as incorporações que tinham como principal foco
o programa, não tiveram o desempenho tão favorável no primeiro trimestre,
além da readequação dos seus orçamentos ao aumento dos custos", explica
Silveira, que cita entre as companhias com essas dificuldades a Gafisa e a
Cyrela.

   A Gafisa já havia anunciado na semana passada a prévia de vendas e
lançamentos do primeiro trimestre. No período, a incorporadora registrou queda
de 4% nas vendas contratadas, que somaram R$ 822 milhões, ante o resultado de
R$ 857 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

   A empresa também registrou queda de 27% nos lançamentos do primeiro
trimestre de 2011 para R$ 513 milhões ante o total de R$ 703 milhões no mesmo
período de 2010. O volume atingiu 10% do ponto médio do guidance de
lançamentos para o ano, na faixa de R$ 5 bilhões e R$ 5,6 bilhões. "No
primeiro trimestre a empresa teve as suas margens pressionadas pelos custos e,
por isso, houve certa desaceleração", explica Silveira.

   No mesmo sentido, a Cyrela, que divulgará o balanço corporativo esta
semana, também deve apresentar quedas nos resultados do trimestre, conforme com
 o Banco Fator.

  De acordo com a prévia de resultados operacionais divulgados pela empresa em
abril, no primeiro trimestre a sua participação em vendas contratadas chegou
a R$ 844 milhões, o que representa queda de 2,9% em relação ao mesmo período
de 2010 (R$ 869 milhões). As vendas totais contratadas nos três primeiros
meses do ano somaram R$ 998,6 milhões, recuo de 6,3% na comparação com o
primeiro trimestre do ano passado (R$ 1.065,8 milhões).

   No entanto, os lançamentos do primeiro trimestre somaram R$ 907,2 milhões,
alta de 88,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2010 (R$ 481,6
milhões). Os resultados são preliminares e ainda estão sujeitos à revisão.
O total de lançamentos no primeiro trimestre deste ano, considerando também a
participação de parceiros da Cyrela, foi de R$ 1.152,5 milhões, alta de 93,3%
 em relação ao primeiro trimestre do ano passado (R$ 596,3 milhões).

   Por outro lado, Silveira explica que as empresas que aumentaram a sua
demanda para o financiamento de imóveis de classe média, de R$ 130 mil a R$
500 mil, que é o limite do Fundo de Garantia por tempo de Serviço (FGTS) devem
sentir menos os efeitos desses fatores no desempenho do trimestre, apesar de
que mesmo assim alguma delas devem fechar o trimestre apresentando redução em
alguns números.

   "A PDG e a Rossi, que tinham bastante lançamentos no programa Minha Casa
Minha Vida, estão mais fortes na classe média, com valores até R$ 500 mil,
que é limite do FGTS e, por isso, devem mostrar resultados mais equilibrados",
 analisa Silveira.

    A PDG Realty anunciou em prévia de resultados operacionais do primeiro
trimestre do ano, que registrou vendas contratadas líquidas de R$ 1,704
bilhão, um aumento de 26% na comparação com igual período em 2010,
considerando apenas a parcela da PDG. As vendas contratadas totais chegaram a R$
 2,198 bilhões no primeiro trimestre.
   
   Nas vendas contratadas no período, considerando somente a parcela PDG, R$
705 milhões foram vendas de lançamentos do próprio trimestre e R$ 999
milhões, de lançamentos de trimestres anteriores.

   Os lançamentos da PDG somaram R$ 1,758 bilhão, nos primeiros três meses
do ano, alta de 67% em relação a igual período do ano passado. Com o número,
a PDG atingiu, no primeiro trimestre, 19% do guidance de lançamentos para todo
 o ano de 2011, que é de R$ 9 bilhões a R$ 10 bilhões.

   A PDG informou ainda que 53% dos lançamentos do primeiro trimestre foram
concentrados no segmento de média renda (unidades entre R$ 250 mil e R$ 500
mil) e 40%, no segmento econômico (unidades até R$ 250 mil). Dos lançamentos
econômicos da PDG, 25% faziam parte das unidades elegíveis ao programa
governamental "Minha Casa, Minha Vida". 

   Para o Banco Fator, os lançamentos no segmento de baixa renda devem ser
retomados com a definição do conselho curador do FGTS sobre o novo limite da
renda e a aprovação da segunda fase do MCMV pelo Congresso Nacional. Enquanto
a primeira medida não tem previsão certa, dado o cenário de inflação
descontrolada, a outra está prevista para o segundo semestre do ano.

   O analista aponta que, assim como foi ressaltado nos resultados do quarto
trimestre de 2010 significativas revisões de orçamento de custos em companhias
de grande porte, entre elas Cyrela e MRV, cujo efeito foi expressivo sobre as
margens do próprio trimestre (devido ao estorno de receita) e o evento deve se
prolongar ao longo dos próximos trimestres, porém de forma menos acentuada.
"A duração desse efeito dependerá do volume reajustado no orçamento e do
momento no ciclo (construtivo e de vendas) em que os projetos com menor margem
se encontram. De forma geral, quanto mais receita potencial a reconhecer esses
projetos tiverem mais longo será o impacto sobre as margens consolidadas",
aponta o Banco.

   "Acreditamos que no futuro não evidenciaremos revisões de orçamento de
montante tão expressivo como os apresentados no quarto trimestre de 2010. As
companhias deverão adotar uma postura mais ativa, com revisões de orçamento
mais freqüentes (mensais ou trimestrais) e, com isto, diluirão o impacto sobre
a margem bruta ao longo de vários trimestres. Apesar disso, acreditamos que a
pressão de custos sobre o setor continuará, especialmente nos itens mão de
obra e custo de terrenos. Em função disso, projetamos margem bruta em queda na
 comparação ano a ano", explica o relatório.

   A receita deve mostrar redução na comparação trimestre a trimestre
devido ainda a menor número de dias úteis (e menor andamento das obras) e
menor volume de vendas no período.

  "A expectativa é que as companhias com foco na média renda sejam destaques
no resultado dos três primeiros meses de 2011. Esperamos bons resultados de
Brookfield, PDG e Rossi", mostra a análise do Banco.

  O Banco espera margens operacionais mais fracas para Cyrela a Gafisa. No caso
de Gafisa a queda de margem ebitda já era esperada (13%-17%). Em relação à
Cyrela apesar da pequena recuperação de margem bruta, o menor reconhecimento
de receita e menor diluição de despesas operacionais, resultará em margem
ebitda de 14% no primeiro trimestre, conforme o relatório. 

   Apesar da diminuição nos resultados de algumas empresas para os três
primeiros meses do ano, o vice-presidente de negócios da Brasil Brokers, Julio
Pina, lembra que a disponibilidade de crédito imobiliário é um fator
benéfico que pode contribuir que o setor registre crescimentos nos próximos
trimestres.

   Além disso, o aumento do emprego formal no País, reforça a previsões de
crescimento do potencial de compra de imóveis. "Estes fatores, sem dúvida,
são muito benéficos para a melhoria do desempenho do setor nos próximos
meses", analisa.

   Para o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), João Crestana, 
o País vive um momento favorável para o desempenho do setor. "O mercado
continua forte e em ritmo de crescimento. A demanda existirá para os próximos
cinco ou dez anos, pois temos um déficit habitacional de mais de seis milhões
de famílias. O que faltam hoje são recursos em geral, mas a demanda está
bastante aquecida", conclui.

     Nara Faria / Agência Leia


Nenhum comentário:

Postar um comentário