quarta-feira, 4 de maio de 2011

Lucros em alta, bolo cada vez maior para dividir

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou o mês de abril novamente em queda, de 3,58%, elevando para 4,58% as perdas no ano. E, segundo analistas, permanecem as incertezas para maio, com a inflação em alta, a perspectiva de novas medidas restritivas ao crédito e as condições externas - risco nuclear no Japão, pressão fiscal na Zona do Euro, e as tensões políticas em países árabes e do Norte da África - inalteradas. Neste cenário, despontam os papéis das empresas boas pagadoras de dividendos, considerados defensivos, já que garantem ganhos além da variação das ações na Bolsa. Especialmente quando se leva em conta os lucros das companhias em 2010.

Estudo da Economatica, divulgado semana passada, mostra que os dividendos pagos pelas companhias abertas (numa amostra de 268 delas) em 2010 somaram R$73,3 bilhões, um salto de 11,9% ante o ano anterior. Esse valor refere-se aos lucros de 2009, quando os efeitos da crise global ainda se fizeram sentir. Sem o contágio da crise, o ganho dessas empresas aumentou quase 40% no ano passado, que será revertido em mais dividendos agora.

- É certo que os dividendos deste ano vão superar os de 2010. Vamos ter um volume muito forte - diz Einar Rivero, gerente da Economatica.

Telecomunicações e setor bancário também são fortes

Com a safra de balanços do primeiro trimestre que começam a ser divulgados, as atenções de analistas e gestores se voltam para os resultados das companhias de setores generosos na distribuição de dividendos para compor as carteiras. Hugo Azevedo, superintendente de Estratégia e Produtos da Santander Corretora, diz que, nos últimos 12 meses, 20 empresas apresentaram rentabilidade de dividendo (o dividend yield, que indica quanto o dividendo pago representou em relação ao valor da ação) superior a 5%. Destas empresas, dez são do setor de energia, três de telecomunicações, três de serviços bancários (como Cielo e Redecard) e uma da construção civil, entre outras. Para ajudar os clientes a elevar os ganhos em tempos de sobe e desce, Azevedo conta que, desde outubro, trabalha com uma "carteira de dividendos", composta por cinco papéis.

- Como é composta para o investidor do varejo, optamos por apenas cinco ações para que ele possa comprar todos na proporção recomendada - explica ele, revelando que, até a sexta-feira passada, essa carteira acumulava ganho de 8,28% acima do Ibovespa.

Empresas de concessão de rodovias (CCR, OHL e EcoRodovias), de bebidas (AmBev), construção (Eternit) e a Souza Cruz também estão entre as que os analistas consideram boas em dividendos.

- São empresas que também geram muito caixa em relação aos investimentos que têm de fazer, por isso conseguem pagar bons dividendos - diz William Castro Alves, analista da XP Investimentos, que também tem uma carteira recomendada desses papéis.

Além das perspectivas das empresas, diz ele, a liquidez é importante na escolha das ações. Por isso, junto às empresas de setores tradicionais, a XP tinha a Grandene em sua carteiras.

- Olhamos a Bolsa como um todo e também a média de yields dos últimos quatro anos - diz Castro Alves.

Em fundos, ganho com dividendo paga imposto

Estrelas das carteiras de dividendos, os analistas advertem que as empresas de distribuição de energia (como Light e Eletropaulo) têm de ser olhadas com cuidado neste momento, pois haverá um novo ciclo de revisão tarifária este ano, que pode ter impacto negativo em seus resultados.

- Essas empresas vão continuar sendo boas pagadoras de dividendos, mas os preços dos seus papéis podem ficar mais voláteis - diz o analista da XP Investimentos.

Francisco da Costa Carvalho, sócio diretor da Lecca Investimentos, diz que, em momentos de forte volatilidade, como agora, as carteiras de dividendos, preferidas por investidores conservadores e moderados, são opção até para os de perfil mais agressivo.

- Assim, captura a perspectiva de valorização da Bolsa, hoje mais arriscada, mas garante um colchão de proteção dos dividendos - diz Carvalho.

Outra opção, lembra ele, são os fundos de ações que privilegiam a estratégia de dividendos, compostos de papéis com boa perspectiva de distribuição de lucros. Nesses fundos, porém, como os dividendos distribuídos são incorporados às cotas e se misturam ao rendimento da carteira, se houver ganho, no resgate ele será tributado.


Michel Filho
Ronaldo D"Ercole

O Globo - 02/05/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário