sexta-feira, 1 de abril de 2011

Preços dos metais avançam no trimestre


Os primeiros três meses do ano representaram para as commodities metálicas uma alta acentuada dos preços nos mercados internacionais. No decorrer do trimestre, no entanto, a escalada foi limitada por eventos externos, como o terremoto seguido de tsunami do Japão, que elevou o sentimento de risco.
Segundo analistas consultados pelo Valor, o avanço dos metais, em geral, tem sido sustentado pela persistente demanda na China, além da recuperação de países combalidos pela crise financeira internacional, como os EUA e algumas nações europeias. "Tudo se resume à China, que continua demandando muito metal, e aos sinais de recuperação da economia global", resume o analista chefe da corretora SLW, Pedro Galdi.
"O cobre - um dos principais metais de base -, por exemplo, tem refletido o bom desempenho do setor de cabos na Europa", afirma o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), Rômulo Giambastiani. A liquidez global, diante dos baixos juros internacionais, também se soma a esse cenário, atraindo os investidores para as commodities, que consideradas ativos físicos com valor intrínseco.

E as cotações evidenciam essas relações favoráveis para os produtores de commodities. Considerando o preço médio mensal, o cobre teve uma alta de quase 5% no acumulado do ano até março e de 27% em doze meses. O preço médio mensal do alumínio, por sua vez, apresentou crescimento de mais de 9% no ano e de 15% em doze meses, atingindo US$ 2,585 mil por tonelada métrica. Mas a maior alta foi registrada no preço do estanho, que avançou 74% frente à março do ano passado, e 17% de janeiro a março de 2011.
Em março, por outro lado, os metais começaram a apresentar uma mudança de rumo. Ontem, o preço do cobre fechou em US$ 9,4 mil por tonelada métrica, enquanto em 4 de janeiro marcava US$ 9,71 mil por tonelada métrica. A cotação de ontem, comparada com a do último dia de fevereiro, marcou recuo de 4,4%. O níquel, por sua vez, apresentou o maior declínio no mês, de 9%.

Analistas dizem que essa inversão de tendência está relacionada com os efeitos do terremoto do Japão. Os temores de que a tragédia na ilha possa afetar a recuperação econômica global afetou a percepção de curto prazo dos investidores. "A construção civil sofre, a indústria automobilística sofre e, logo depois (do terremoto), alguns agentes migraram das commodities ou tiveram a necessidade de fazer caixa", explica Giambastian.
Os picos do petróleo, estimulados pela crise política em países do Oriente Médio e do norte da África, são mais um fator que provoca dúvidas sobre a resistência das economias em dificuldades.
O cobre, particularmente, vem atravessando um momento que tem chamado a atenção do mercado. Alguns analistas já alertam para uma elevação dos estoques do metal nos últimos dias, o que pode significar que sua oferta está maior do que a demanda. Um relatório do Standard Bank apontou para a alavancagem dos investidores chineses que se financiam por meio do estoque de cobre com juros baixos no exterior. Dado que abril é sazonalmente um mês de forte procura, o período será um indicador para o mercado da situação do produto internacionalmente.

Mas esse movimento de queda dos preços verificado no último mês não deve ditar, em geral, o rumo dos metais ao longo do ano. Os analistas continuam acreditando que a evolução dos preços no longo prazo é mais sustentada pela continuidade do crescimento da demanda, principalmente dos países emergentes. Além disso, há expectativas de que o Japão terá que passar por uma reconstrução que exigirá commodities metálicas. Para o minério de ferro, por exemplo, cujos preços também perderam o fôlego, a tendência, segundo o analista da Socopa, Marcelo Varejão, é de uma recuperação, já que a relação de oferta e demanda permanece favorável para as mineradoras. "Não há nenhum grande projeto de oferta para entrar no mercado nos próximos dois anos", acrescenta ele.

Vanessa Dezem | De São Paulo
Valor Econômico - 01/04/2011

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