Os investidores em mercados emergentes estão cada vez mais irritados com a interferência do governo nas grandes companhias estatais, o que é uma notícia potencialmente ruim para os mercados de ações. Em todo o mundo em desenvolvimento, governos que enfrentam a inflação estão subsidiando de alimentos à energia como alternativa ao aumento das taxas de juros, especialmente quando há eleições por perto.
As companhias estatais, que segundo o Deutsche Bank respondem por um terço do universo corporativo emergente, sempre arcam com a maior carga de subsídios. Isso significa que a lucratividade - e os preços das ações - sofrerá um golpe, ainda mais quando o cenário nos mercados emergentes parece volátil.
"Esse será um dos principais tópicos dos próximos anos: será que podemos confiar na maneira como os governos lidam com as empresas?", diz Marten-Jan Bakkum, estrategista de portfólio do fundo de mercados emergentes da ING Investment Management, acrescentando que o ING passou a adotar uma postura "neutra" em relação ao Brasil por causa das pressões do governo sobre as grandes companhias estatais.
O sucesso da China em posicionar estrategicamente os recursos de suas próprias gigantes estatais vem levando outros países a tentar fazer o mesmo. Recentemente, o Brasil foi notícia ao remover o presidente da Vale, mineradora que fatura US$ 180 bilhões, por ele ter resistido aos esforços do governo para forçar a companhia a embarcar em atividades de baixo retorno. A medida ocorreu meses depois de que uma oferta de ações de US$ 70 bilhões da Petrobras deixou furiosos os acionistas minoritários. As preocupações estão refletidas nos preços das ações. A ação da Vale está avaliada agora à metade do preço médio das grandes produtores globais.
Analistas do Credit Suisse observam que, historicamente, o Brasil sempre foi negociado com um desconto de 25% sobre seus pares emergentes numa base a prazo - possivelmente porque o Estado tem participações numa parcela desproporcionalmente grande de companhias com ações em bolsa de valores.
Will Landers, que gerencia US$ 10,5 bilhões em ações latino-americanas na BlackRock, diz que a emissão da Petrobras corroeu sua condição de empresa estatal que ainda tratava os acionistas de maneira justa. "A Petrobras e a Vale são lembranças de que temos o governo como sócio e que de vez em quando seremos pegos em situações que não serão boas para os acionistas", afirma. Mas Landers ainda tem Petrobras entre suas dez maiores posições, embora continue abaixo da média na ação. Como as grandes estatais compõem uma grande parte do mercado local, pode ser difícil para os gestores ignorá-las.
Alguns investidores veem o suporte do Estado como bastante positivo, uma vez que os governos podem empurrar a agenda das companhias para fora do país ou interferir quando elas precisam de ajuda financeira. Mas, num cenário mais difícil para os mercados emergentes, o problema vai recair com mais força sobre os preços, especialmente porque muitos países estão preparando grandes vendas em companhias estatais.
Um estudo do Deutsche Bank constatou que o capital líquido investido nos mercados emergentes cresceu 53% do período 2006-08 para 2009-11, mas os ganhos econômicos - o fluxo de caixa que uma companhia espera gerar perpetuamente - cresceram apenas 7%. Rússia, China e Brasil, países onde o controle estatal é mais rígido, saíram-se pior. A mesma análise mostrou que os investimentos e os ganhos econômicos cresceram 10% e 6%, respectivamente, nos Estados Unidos.
O desconto de avaliação das ações emergentes mostra que parte disso já está embutida no preço. Mas Smith prevê coisas piores. "Acredito que o retorno patrimonial nos mercados emergentes será duramente afetado nos próximos anos... com o tempo deveremos ver uma certa corrosão do crescimento dos lucros nos mercados emergentes em comparação aos mercados desenvolvidos, principalmente por causa da valorização excessiva - este é o motivo de eu estar relativamente pessimista com os mercados emergentes."
Sujata Rao | Reuters, de Londres
25/04/2011
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